PSICOTERAPEUTA DRICCA RHIEL FALA SOBRE O LADO OCULTO DA PANDEMIA

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Nem sempre acreditamos naquilo que não vemos.  Os segredos obscuros guardados pelas paredes de um lar, aparentemente harmonioso, podem encobertar atos tenebrosos e violentos dignos de um filme de terror. A vítima, impossibilitada de ser vista, também não terá a chance de ser socorrida. O silêncio acaba sendo, neste caso, o melhor aliado do agressor.  A violência doméstica contra mulher, infelizmente, é um crime que tem aumentado durante o período de isolamento social. Essa pandemia oculta atinge mulheres de todas as idades e classes sociais. E a máscara usada para a prática desse crime é tão antiga quanto à humanidade:  a desigualdade de gênero na estrutura histórica, política e cultural nos quatro cantos do mundo.  Então, como sanar esse desequilíbrio entre os sexos causado pelo patriarcado e perpetrado até os dias de hoje? A resposta não é simples. É preciso edificar três colunas que trabalharão em uníssono: a justiça por meio de leis que protejam a integridade física e psicológica da mulher, além da equiparação salarial; a educação que promova conscientização sobre a igualdade de gênero, oportunidade de trabalho e sentimento de sororidade; e o acolhimento das vítimas em casas de abrigo especializadas.

Mas como os homens agridem as mulheres? Existem cinco formas de violência contra a mulher:

Física – qualquer ação que ofenda a integridade ou saúde corporal.

Psicológica – qualquer ação que cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação como humilhação, perseguição, controle, chantagem, constrangimento e isolamento.

Patrimonial – qualquer ação que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos, bens, recursos, documentos pessoais, instrumentos de trabalho.

Sexual – qualquer ação que limite o exercício dos direitos sexuais ou reprodutivos, tais como coação a presenciar ou participar de relação sexual indesejada; impedimento do uso de método contraceptivo; e indução ao aborto ou à prostituição

Moral – qualquer ação que configure calúnia, injúria ou difamação.

O que percebemos é que na pandemia, as medidas de confinamento e de isolamento acabam criando um ambiente favorável ao controle coercivo das vítimas por parte dos agressores aumentando os incidentes de violência física, psicológica e sexual. O gatilho para a violência masculina aponta, vergonhosamente, para uma motivação em especial: o ciúme. Em todas as pesquisas, o abuso de álcool é fator preponderante. Porém, a emoção catalisadora da violência, sem sombra de dúvidas, é o ciúme. Esse sentimento de posse vem de épocas remotas em que a mulher era tratada como uma propriedade particular, sem direito a vontade própria e precisava se submeter aos desejos masculinos. Transposto para a atualidade, ainda vemos mulheres sendo vigiadas, controladas e, portanto, objetificadas. O fruto dessa relação de posse primitiva é conhecido hoje como assimetria de poder. E enquanto houver desequilíbrio entre forças masculinas e femininas na sociedade, também veremos isso refletido nos lares. É preciso dizer “basta” em coro. Quando uma mulher apóia a outra, ela dá voz a todas que precisam de coragem para dizer: não mais!

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